segunda-feira, 6 de junho de 2011

Personagens; visão da quarta parede.

      Sou uma espectadora privilegiada. Além de ser parte do espetáculo, sou também uma espectadora mais que fiel. Vejo tudo, preciso ver para poder executar meu ofício, pra fazer soar o violão. Devo estar atenta a cada fala, a cada texto, cada personagem, por isso, hoje resolvi escrever sobre o que cada menino pelado e cada ser fantástico que existe no país de Tatipirum me transmite.
     Começo com o Raimundo, sem nenhuma surpresa. Um menino sonhador, solitário, sabido, ligeiro e perguntador. Vive sonhando com sua terra. Entrega-se inteiro ao seu país. Está sempre na tentativa de encontrar a resposta para tantos dilemas, o maior deles, ter a cabeça pelada e os olhos com cores diferentes. É a linha que costura os retalhos da história, é o maestro daquela orquestra de meninos, tão astutos, traquinos e alegres quanto ele é.
     Os meninos, aqueles que caçoam da diferença impressa na cara de Raimundo. São meninos que não sonham, que não imaginam. Estão restritos àquilo que podem ver, ao que é físico. Demonstram intolerância e julgam sem qualquer sentimento. São breves contudo incisivos.
      Ao chegar na terra tão sonhada, a quimera de estar com os seus acaba de abrir as portas. O carro é o primeiro indivíduo que Raimundo encontra nessa aventura. O carro é breve, objetivo, não atropela ninguém e diz ao Raimundo para deixar de besteira. Deixa o caminho livre, confirma que os caminhos estão abertos para o divertimento do protagonista.
      "Faz favor?!" diz a Laranjeira.. Bucólica, educada, fina, inebriante, tranquila, paciente e disponível. Explica ao menino recém chegado quais os costumes do lugar. Ainda o orienta a seguir sempre em frente, a seguir sempre, para o tão desejado encontro com os colegas de ímpar semelhança, todos os caminhos são certos. Ela é o norte, o passaporte para o divertimento.
       Chegam aí os primeiros a ver Raimundo, os meninos pelados Fringo, Sardento e Pirenco. Parecem três palhaços, mas de cara lisa, de rosto limpo. A graça está no gesto, na expressão de todo corpo desses moleques. São divertidos e muito curiosos. É o primeiro contato humano, digamos assim, de Raimundo na terra sonhada.
       O troco é a maturidade. Velho, vivido, quer sempre o melhor, não quer ver confusão e nem que surjam pensamentos diferentes do que realmente existe.
       Costureira, dona do talento de construir as roupas de todos os meninos, a Dona Aranha é o toque pop da história. É uma estilista, dita o que chamo de "a moda em Tatipirum". É moderna, chique, convencida, pintosa, metida, exibida e escandalosa. Inclui Raimundo no estilo do lugar.
       Daí chegam os outros meninos, Grandão, Cira e Talima. O primeiro é medroso e chorão, só tem tamanho mesmo, coração mole dentro de uma casca grossa. Vive pensando besteira. Cira é quieta, observadora que só ela, mas é muito honesta nas suas reações. por último, Talima, menina com ar de boba, insistente até a tampa e muito doce no olhar.
        Mandando em tudo, chega a Princesa. É uma menina metida a ser gente grande, contadora de histórias, serelepe, rápida e inteligente. Passa a impressão de ser a mais velha da turma, apesar de ser a mais baixa. Tal impressão se justifica pelo seu comportamento firme para com os meninos, é como se ela fosse a chefe, a mestra que todos seguem seus pedidos e mandados.
        A velha Sinhá Guariba é o último ser fantástico que assina a aventura de Raimundo no país de Tatipirum. Já viveu tanto que esqueceu do tempo que era menina. Vejo-a como minha avó que sabe é muito da vida, já viu muito do mundo, mas agora, no avançar da idade, esquece das coisas. Ainda assim, a macaca dá um jeito de participar da jornada juntos com os meninos, contando um 'causo' que lhe ocorre.
      Na minha ótica, cada ser de Tatipirum é especial e deixa sua marca no caminho de Raimundo. Conviver com eles a cada encontro, é uma alegria. Cada um imprime na memória de quem os vê, um sinal de amizade, boa vontade e companheirismo. Daqui a pouco, eles estarão não só no meu imaginário, mas no de tantos outros que desejam conhecê-los verdadeiramente.



                                                                                Por Leila Chaves
     

Um comentário: